COMPROMISSO DA MISERICÓRDIA DE EVORAMONTE
O Compromisso da confraria da Misericórdia, impresso em Lisboa, por Valentim Fernandes e Hermão de Campos, aos 20 dias de Dezembro de 1516.
A(s) imagem representa(m) o exemplar do Compromisso da confraria da Misericórdia da Santa Casa da Misericórdia de Evoramonte, recentemente restaurado na Biblioteca Nacional de Portugal, com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, e que é um dos 10 exemplares que restam da edição original de 1516 (*).
Mas, afinal, o que é o Compromisso e qual o seu valor e interesse históricos?
Comecemos, então, por recordar que foi a rainha viúva, D. Leonor de Lencastre (1458-1525), mulher de D. João II (Rei entre 1481-1495), que fundou, em Lisboa no ano de 1498, a irmandade de Nossa Senhora da Misericórdia e que depois dessa iniciativa real outras fundações foram surgindo pelo país, levando o Rei D. Manuel I a mandar publicar, em 1516, um “compromisso” para a “boa governança” das confrarias.
Como se pode ler no prólogo do Compromisso, impresso em 1516, o Rei sublinha o propósito da irmandade em cumprir as obras de misericórdia, tanto as espirituais como as corporais. E são sete, primeiro as espirituais: “ensinar os simples, dar bons conselhos a quem os pede, castigar com caridade os que erram, consolar os tristes e desconsolados, perdoar a quem errou, sofrer as injúrias com paciência e, por último, rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos.” De seguida, vêm as sete obras corporais: “remir os cativos e visitar os presos, curar os enfermos, cobrir os nus, dar de comer aos famintos, dar de beber aos que têm sede, dar pousada aos peregrinos e pobres, enterrar os finados.”
Assim, no quinto centenário da sua publicação, o Compromisso deixa aos seus leitores de hoje a reflexão sobre a actualidade dos propósitos então enunciados com vista a uma sociedade mais humana e solidária.
Resta sublinhar o modo como o Rei D. Manuel I soube utilizar a imprensa, então nascente (com os primeiros impressos portugueses registados a partir de ca. de 1488), para o “boa governança” não apenas das Misericórdias, mas também do governo do país.
Depois de restaurado, ainda a tempo de festejar os seus 500 anos, o exemplar que se vê nas imagens (cujo número reduzido de cópias sobrevivas atesta bem o seu valor e interesse histórico), fica-nos a certeza de que a Santa Casa da Misericórdia de Evoramonte o conservará como merece, de modo a garantir que permaneça como memória viva do seu compromisso fundacional.
Lisboa, Novembro de 2016
Helga Maria Jüsten
Centro de Estudos Históricos / CHAM – Universidade Nova de Lisboa
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(*) O exemplar da Santa Casa da Misericórdia de Evoramonte corresponde a uma variante na impressão, porque as iniciais do fólio j estão impressas a tinta preta, em vez de tinta vermelha, como sucede com o exemplar à guarda do Arquivo Histórico da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa.
HOSPITAL
A Misericórdia de Evoramonte, funcionou nos seus primórdios, como Hospital, dentro das muralhas do castelo, realizando partos, consultas e cirurgias.
Os instrumentos hospitalares utilizados, na época, ainda se encontram na Misericórdia, e são ocasionalmente expostos ao público.
IGREJA DA MISERICÓRDIA DE EVORAMONTE
Situada intra muralhas do Castelo de Evoramonte, a Igreja da Misericórdia foi erguida no final do séc. XV, início do séc. XVI, apresentando características gótico-manuelinas.
No seu interior podem observar-se paineis de azulejos datados do séc. XVIII e que representam as Obras de Misericórdia.
Pode ainda observar-se um púlpito em mármore de Estremoz, e o altar-mor em talha dourada, presumivelmente, do final do período Barroco, que acolhe a imagem de N.ª Sr.ª da Visitação.
A Misericórdia de Evoramonte guarda ainda no seu tesouro, alfaias e paramentos datados do séc. XVI.
The images represent the copy of the Commitment of Santa Casa da Misericordia de Evoramonte recently restored in the National Library of Portugal, with the support of the Santa Casa da Misericordia de Lisboa, and that is one of the 10 copies left of the original edition of 1516 (*).
But, after all, what is the Commitment and what is its historical value and interest?
Let us begin by recalling that it was the widowed queen, D. Leonor de Lencastre (1458-1525), wife of King João II (King between 1481-1495), who founded in Lisbon in 1498 the Brotherhood of Nossa Senhora da Misericórdia and that after this real initiative other foundations were appearing in the country, causing King D. Manuel I to have a “commitment” to the “good governance” of the confraternities published in 1516.
As can be read in the prologue to the Commitment, printed in 1516, the King highlights the purpose of the brotherhood fulfilling the works of misericordia, both spiritual and corporeal. And there are seven, first the spiritual ones: “to teach the simple, to give good advice to those who ask them, to punish with charity those who err, to comfort the sad and disconsolate, to forgive those who have erred, to suffer the injuries with patience, and lastly to pray To God for the living and for the dead. “Then the seven bodily works:” to redeem the captives and to visit the prisoners, to heal the sick, to cover the naked, to feed the hungry, to give drink to those who thirst, to give to the pilgrims and the poor, to bury the dead.”
Thus, in the fifth centenary of its publication, the Commitment leaves to its readers today a reflection on the topicality of the purposes then enunciated with a view to a more humane and solidary society.
It remains to be emphasized how King D. Manuel I was able to use the press, which was at that time (with the first Portuguese letters imprints after ca. 1488), for the “good governance” not only of the Misericordias, but also of the country.
After being restored, in time to celebrate its 500 anos, the copy that is seen in the images (whose reduced number of surviving copies testifies well to its value and historical interest), we are certain that the Misericordia of Evoramonte will keep it as it deserves, so as to ensure that it remains a living memory of its foundational commitment.
Lisbon, November 2016
Helga Maria Jüsten
Center for Historical Studies / CHAM – Universidade Nova de Lisboa
[Translation by SCME]
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HOSPITAL
The Evoramonte’s Mercy, worked in the beginning, as a Hospital, inside of the castle’s walls, practicing deliveries, medical appointments and surgeries were made.
The hospital instruments, at the time, are still at Mercy, and are occasionally exposed to the public.
Evoramonte’s Mercy Church
Located in the interior of the Evoramonte’s Castle walls, the Church of Mercy was raise in the end of . XV century, beginning of . XVI century, apresentando características gótico-manuelinas.
In its inside it’s possible to observe tile panels dated from the. XVIII century which represents the Holy construction.
Also there’s an Estremoz’s marble pulpit, and the main altar in gilded, presumable, of the end of Baroque period, which involves the image of Nª Srª da Visitação (Visitation Madonna).
The Evoramonte’s Mercy keeps on its treasure, alfaias and canonicals dated from the . XVI century.